sexta-feira, 30 de abril de 2010 Tags: 0 comentários

IV - LEITURA DE SÁBADO: A BATALHA ENTRE O PRESENTE E O AUSENTE

Bruno Coriolano costumava sentar bem no centro da pracinha principal da cidade, com seus amigos. Até que um dia, botou a mochila nas costas e saiu num intercâmbio para os Estados Unidos da América. Aventureiro? Não. O rapaz sempre foi muito inteligente e soube aproveitar as oportunidades da vida para crescer e acumular experiências que lhe firmariam numa carreira profissional  : foi aprimorar seu inglês na terra do Tio Sam. De quebra, administrou o blog Mochileiro das Galáxias e lá postou  literatura e as paisagens que percorreu. A convite , ele escreveu esta crônica bem real que retrata a persistência do professor frente a alunos interessados em tudo menos nos feitos das gerações passadas. Leiam:

 É desprezível, mas é uma verdade que nossa educação anda ziguezagueando e agonizando dia após dia. A aula começa e o professor ensaia as primeiras palavras, mas de repente, começa o tiroteio de psiu, psiu, pedindo silêncio e mendigando um pouco de atenção para um bando de alunos ligados nos 220 volts.
     O danado do grupinho que senta no fundão começa o cochichado e o grupo das patricinhas passa uma revista de fofocas de mão em mão. A desatenção é total. Em um determinado momento, toca um celular. Deve ser uma mensagem. Os assuntos são postos em dia e um rapazinho metido a conquistador começa a jogar seu olhar sobre uma mocinha que fica sentada ao seu lado. Tudo tem mais importância do que a aula de história do professor.
     O mestre começa a falar sobre a Idade Média, mas os alunos querem é  saber mesmo é da mídia. O que está passando na TV e o que tá rolando na net. Nada de aulas. O pobre do homem continua, em seu monólogo que parece não ter fim, descrevendo como as pessoas se vestiam naquela época. Quem liga pra essas coisas antigas? Eles querem é saber daquele novo par de calças jeans que viram no shopping semana passada.
     De repente o blá blá blá do professor é quebrado. Alguém pergunta se já foi feita a chamada e todos olham pro relógio. O educador começa a suar frio e pensa: “o que é que eu tô fazendo aqui?”
     Em determinado momento ele insiste: “alguém tem alguma dúvida?”. Claro que o esforço é em vão. Nem uma simples palavrinha é pronunciada em resposta.
     Com o tempo a coisa fica mais angustiante. Um aluno saca, da sua mochila, um mp4 player e mostra um vídeo amador feito por ele mesmo na semana passada. Todos fazem aquela zorra pra ver o que acontece.
     Toca o sinal e como se estivesse saindo de uma prisão, os alunos correm numa gritaria em direção ao pátio da escola. Lá fora, a gritaria continua.
     Na sala agora quase que totalmente vazia, resta o que sobrou do mestre. Olhar perdido em si mesmo e a consciência tranqüila por ter ensinado trava uma luta com a certeza de que quase nada ou nada foi aprendido. É hora de tomar um copo d’água e preparar-se para enfrentar outra turma apática como aquela. No ar, apenas a certeza da luta entre o ser que estava presente à aula e os outros que estavam ausentes. 
Bruno Coriolano de Almeida Costa é graduado em Letras pela UERN e especialista em Inglês pela FVJ. Professor de Línguas do SENAC e IFRN na cidade de Mossoró – RN

O jovem escritor  tem muita letra a revelar, pois seus livros ainda não foram publicados. Porém, dos textos de sua autoria disponíveis em alguns blogs, afirmo: tem literatura atraente sob forma de poemas, crônicas e... nem sei mais! Sei que, ainda aguardo ter exemplares autografados por este talento que medrou aqui, no vale de Apodi.
SUCESSO, BRUNO!

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