Publicado na revista Carta na Escola, edição nº62, o texto "Todos ri", de Fábio Yabu, emociona pela dose exata de ternura com a qual ele relembra os ensinamentos dos pais. Lições simples, mas que moldaram o seu caráter, firmaram valores e motivaram um olhar solidário para o próximo. Muito bom! Então vamos, com essa leitura, refletir sobre as nossas condutas, seja na vidinha real ou nas redes virtuais:
"Meus pais foram os melhores professores que já tive. Nascidos em famílias humildes no interior de São Paulo, tiveram as vidas moldadas pelo sacrifício. Como vocação, abraçaram o ensino da Matemática na rede pública e, ano após ano, escola após escola, cidade após cidade, galgaram seu lugar ao sol até as areias de Santos, onde hoje aproveitam a merecida aposentadoria.
"Meus pais foram os melhores professores que já tive. Nascidos em famílias humildes no interior de São Paulo, tiveram as vidas moldadas pelo sacrifício. Como vocação, abraçaram o ensino da Matemática na rede pública e, ano após ano, escola após escola, cidade após cidade, galgaram seu lugar ao sol até as areias de Santos, onde hoje aproveitam a merecida aposentadoria.
Poucas vezes precisei recorrer a eles quando tinha um problema matemático. E atrevo-me a dizer que aprendi coisas muito mais importantes do que bhaskara ou algoritmos. "Em boca fechada não entra mosca". "Quando um burro fala, o outro baixa a orelha". "Trate os outros como gostaria de ser tratado". Resumindo, papai e mamãe me ensinaram a ser comedido com as palavras, a escutar a opinião alheia e, o mais importante, a ter compaixão.
Ao longo dos anos, fui crescendo com filhos de outras pessoas que aprenderam lições parecidas. Que prezavam o trabalho duro, admiravam a inovação e buscavam um futuro melhor. Meninos e meninas que, como eu, viam nos olhos de seus pais aquele medo de que a incerteza política e econômica os jogasse novamente contra a linha da pobreza.
Hoje, os tempos são diferentes. Entre uma crise e outra, entre tempestades e marolinhas, o País melhorou. E eu, que nunca tive de dormir ao relento como meu pai menino, ou trabalhar em uma fábrica de sapatos como minha mãe menina, agora tenho uma filha de 10 meses dormindo no cômodo ao lado. Evidentemente, nem tudo está melhor. Pelo contrário: estou certo de que perdemos algo precioso. Notadamente, na última década. Pais e filhos parecem anestesiados pelo infindável ciclo de crimes, corrupção, escândalos e impunidade. Certamente, a internet e a falsa sensação de anonimato proporcionada pelas telas também entrou na conta. E o resultado foi uma geração de cínicos que acham graça em tudo e não se concentram em nada. Q ue confundem "humor" com "calúnia' e "liberdade de expressão" com "impunidade". Que disparam ironias como chimpanzés atirando cocos sem se importar com o conteúdo ou quem vão atingir. E acusam seus opositores de serem "politicamente corretos', como se fosse esse o verdadeiro mal que nos aflige.
Casos recentes como a doença do ex-presidente Lula, que gerou a primeira campanha pró-câncer de que tive notícia, ou a agressão à repórter televisiva Monalisa Perrone, que virou motivo de piada nas redes sociais. A moça foi agredida ao vivo por um rapaz um pouco mais jovem do que eu, com um sorriso de quem ganhou uma competição olímpica. E a juventude aplaudiu virtualmente, na forma de "KKKs", "LOLs" e "HEHEHEs" compartilhados no Twitter e no facebook onde "todos ri" (sic).
A internet é algo maravilhoso. É possível aprender praticamente qualquer coisa, de idiomas a projetos de bombas. Por outro lado, penso que precisamos nos voltar para as lições simples que aprendi com meus pais, que todo professor tem dentro de si e que só podem ser transmitidas de um ser humano para outro. Não proponho aqui nenhuma mudança no sistema de ensino. Trata-se apenas de um apelo desesperado enquanto minha filha não acorda: pais e professores, precisamos ensinar nossas crianças a reparar. A se importar: que a dor do próximo também é nossa e jamais deve ser motivo de risadas. Que essa história coletiva que se repete a cada episódio triste está ofuscando nossa verdadeira natureza. Tornando-nos menores, mais tolos, menos humanos. Ou como minha mãe sempre resumiu muito bem: "Agora está todo mundo rindo, mas daqui a pouco tem um chorando".
E, dentre as coisas boas que a internet possibilita, destacamos aqui, o contato com o autor! E ele nos deu autorização para publicarmos neste espaço o seu escrito.
Valeu a gentileza!
O nosso agradecimento mais sincero e votos de sucesso para o seu novo livro.
Confiram o book trailer:
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Valeu a gentileza!
O nosso agradecimento mais sincero e votos de sucesso para o seu novo livro.
Confiram o book trailer:
1 Response to LEITURA DE SÁBADO:"TODOS RI" / POR FÁBIO YABU
Adorei o texto e a minha professora deu ele paraos alunos da sala Eu achei que vc falo a pura realidade e muito obrigado por mostra o mundo diferente
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