x
x
x
Ele era um mancebo bonito, de cabelos negros e olhares sagazes. Frequentava tendinhas e bebia a doce caninha pernambucana. Como gostava da boemia o belo poeta! Porém, um fato o incomodava: a sociedade escravocrata. A condição degradante na qual os negros estavam submetidos perturbou-lhe o senso e, foi ele denunciar, na sua poesia, tamanha injustiça:
'Hoje em meu sangue a América se nutre
condor que transforma-se em abutre
ave da escravidão.
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
qual de José os vis irmãos, outrora
venderam seu irmão'
Fez declarações ousadas em nome da causa que se propôs a defender:
'Auriverde pendão da minha terra
que a brisa do Brasil beija e balança
...
Antes te houvessem roto na batalha
do que servires a um povo de mortalha
Desafiou a mais alta hierarquia religiosa:
'Quebre-se o cetro do papa
faça-se dele - uma cruz!
a púrpura sirva ao povo
p'ra cobrir os ombros nus.
E, numa época em que o Brasil engatinhava na democracia, de um púlpito lançou críticas aos poderosos que tentavam abafar a voz do povo que lutava pela causa abolicionista:
A praça! A praça é do povo
como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
cria águias em seu calor!
Senhor!... pois quereis a praça?
desgraçada a populaça
só tem a rua de seu...
Ninguém vos rouba os castelos
tendes palácios tão belos...
Deixai a terra ao Anteu.
Quanta ousadia do nosso jovem! Talvez por amor a liberdade, a quem chamava de 'Musa libérrima, audaz', afiou seu verso e a sua voz. Ela sim, a liberdade, foi a musa que fez seu sangue efervescer e sua voz ecoar até nossos dias, nos fazendo perceber as injustiças e desigualdades sociais que permanecem. Porque, na sua juventude, compreendeu que o homem é livre para ser, pensar e viver, independente da cor; que o progresso de uma nação não podia ter o preço do suor escravo, da pele chicoteada e da dignidade corrompida de uma raça.
E tanto amou a liberdade que a traduziu numa cena imaginária e passional entre o britânico Lord Byron e Guiccioli, uma das suas muitas amantes, compondo versos apaixonantes em:
O DERRADEIRO AMOR DE BYRON
I
Num desses dias em que o Lord errante
Resvalando em coxins de seda mole...
A laureada e pálida cabeça
Sentia-lhe embalar essa condessa,
Essa lânguida e bela Guiccioli ...
II
Nesse tempo feliz... em que Ravena
Via cruzar o Child peregrino,
Dos templos ermos pelo claustro frio...
Ou longas horas meditar sombrio
No túmulo de Dante — o Gibelino...
III
Quando aquela mão régia de Madona
Tomava aos ombros essa cruz insana...
E do Giaour o lúgubre segredo,
E esse crime indizível do Manfredo
Madornavam aos pés da Italiana ...
IV
Numa dessas manhãs... Enquanto a moça
Sorrindo-lhe dos beijos ao ressábio,
Cantava como uma ave ou uma criança...
Ela sentiu que um riso de esperança
Abria-lhe do amante lábio a lábio...
V
A esperança! A esperança no precito!
A esperança nesta alma agonizante!
E mais lívida e branca do que a cera
Ela disse a tremer: — "George, eu quisera
Saber qual seja... a vossa nova amante".
VI
— "Como o sabes?. . . " — "Confessas?" — "Sim! confesso. . . "
— "E o seu nome. . . " — "Qu'importa?" — "Fala Alteza!. . . "
— "Que chama douda teu olhar espalha,
És ciumenta?. . . " - "Mylord, eu sou de Itália!"
— "Vingativa?. . . " - "Mylord, eu sou Princesa!. . . "
VII
— "Queres saber então qual seja o arcanjo
Que inda vem m'enlevar o ser corruto?
O sonho que os cadáveres renova,
O amor que o Lázaro arrancou da cova
O ideal de Satã?. . . " — "Eu vos escuto!"
VIII
— "Olhai, Signora... além dessas cortinas,
O que vedes?. . . " — "Eu vejo a imensidade!. . . "
- "E eu vejo. .. a Grécia... e sobre a plaga errante
Uma virgem chorando..." — "É vossa amante?..."
— "Tu disseste-o, Condessa!" É a Liberdade!!!. . ."
Resvalando em coxins de seda mole...
A laureada e pálida cabeça
Sentia-lhe embalar essa condessa,
Essa lânguida e bela Guiccioli ...
II
Nesse tempo feliz... em que Ravena
Via cruzar o Child peregrino,
Dos templos ermos pelo claustro frio...
Ou longas horas meditar sombrio
No túmulo de Dante — o Gibelino...
III
Quando aquela mão régia de Madona
Tomava aos ombros essa cruz insana...
E do Giaour o lúgubre segredo,
E esse crime indizível do Manfredo
Madornavam aos pés da Italiana ...
IV
Numa dessas manhãs... Enquanto a moça
Sorrindo-lhe dos beijos ao ressábio,
Cantava como uma ave ou uma criança...
Ela sentiu que um riso de esperança
Abria-lhe do amante lábio a lábio...
V
A esperança! A esperança no precito!
A esperança nesta alma agonizante!
E mais lívida e branca do que a cera
Ela disse a tremer: — "George, eu quisera
Saber qual seja... a vossa nova amante".
VI
— "Como o sabes?. . . " — "Confessas?" — "Sim! confesso. . . "
— "E o seu nome. . . " — "Qu'importa?" — "Fala Alteza!. . . "
— "Que chama douda teu olhar espalha,
És ciumenta?. . . " - "Mylord, eu sou de Itália!"
— "Vingativa?. . . " - "Mylord, eu sou Princesa!. . . "
VII
— "Queres saber então qual seja o arcanjo
Que inda vem m'enlevar o ser corruto?
O sonho que os cadáveres renova,
O amor que o Lázaro arrancou da cova
O ideal de Satã?. . . " — "Eu vos escuto!"
VIII
— "Olhai, Signora... além dessas cortinas,
O que vedes?. . . " — "Eu vejo a imensidade!. . . "
- "E eu vejo. .. a Grécia... e sobre a plaga errante
Uma virgem chorando..." — "É vossa amante?..."
— "Tu disseste-o, Condessa!" É a Liberdade!!!. . ."
Em sua homenagem, foi criado no calendário cultural brasileiro o Dia da Poesia, celebrado em 14 de março, data de nascimento do poeta e, no ano de 1923, na praça que leva o seu nome, foi eregida na capital baiana Salvador, uma estátua que figura o poeta condor declamando seus versos ao povo:
E o que são na verdade estes meus cantos?
Como as espumas que nascem do mar e do céu da vaga e do vento, eles são filhos da musa... Mas como as espumas flutuantes levam, boiando nas solidões marinhas, a lágrima saudosa do marujo, possam eles, ó meus amigos! Efêmeros filhos de minh'alma levar uma lembrança de mim às vossas plagas!'
Castro Alves
+ sobre Castro Alves:
Em livros:
A Vida Dos Grandes Brasileiros / Volume 3
ABC de Castro Alves / Jorge Amado
Em sites:
No Response to "VI- LEITURA DE SÁBADO / CASTRO ALVES"
Postar um comentário